quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Poema da noite plácida...

...enquanto o orçamento vai e vem:

A multidão em fúria
passeia plàcidamente nas ruas da cidade,
plácida mente,
enquanto os homens que orientam plàcidamente
a multidão em fúria
que plàcidamente passeia nas ruas da cidade,
procuram furiosamente
as soluções plácidas
que orientarão a multidão em fúria
que, plàcidamente, passeia nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
e os sábios buscam furiosamente
as fórmulas plácidas
que, plàcidamente,
resolverão as dificuldades da multidão em fúria
que passeia nas ruas da cidade
de mente plácida,
plácida mente,
e todos, em suma,
plàcidamente,
procuram furiosamente,
de todas as formas plácidas,
atender às inquietações e aos anseios plácidos
da multidão em fúria
que, plàcidamente, passeia nas ruas da cidade,
e plàcidamente se assenta nos plácidos bancos das avenidas,
bebendo o ar plácido da noite,
e esperando, plàcidamente,
as soluções plácidas
para os seus anseios e inquietações furiosas.
___
António Gedeão, Linhas de Força, 1967, Edição do autor [comprado em Coimbra, em Setembro de 1969].

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Andam dióspiros no meu quintal

Aí estão eles de novo, à consideração da passarada.
A ver se sobram para mim e para quem mais lhes chegue.
Trouxe-os aqui à colação.
Mas ficam a saber que, ao contrário do que determina o art.º 2.104º do Código Civil. os que eu comer não serão restituídos para efeitos de igualação.
Como os que me dá na real gana e, pronto, as contas estão feitas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O PESCADOR DE SONHOS

Nascido a 10/8/1947, o Carlos Luzio viveu a mesma infância e juventude que tantos de nós: entre escola, colégio e frenéticas férias do mais puro gozo, traquinices, malfeitorias e bailaricos de entesoar.
Mal teve tempo de acabar o então 7º ano do liceu em Oliveira do Bairro. Em Setembro de 1970 atracava disfarçado de alferes miliciano no porto de Nacala, região moçambicana do Cabo Delgado. Esperava-o, como a tantos de nós, aquilo a que chamava a puta da guerra.
Guardo desse tempo uma preciosa colecção de cartas (sobretudo, em forma dos célebres bate-estradas), que me ia enviando do código postal militar que não identificava o local da origem, não fosse o inimigo saber onde a malta estava a derramar a juventude.
Ciente disso e num rasgo único de fidelidade à Pátria e aos seus segredos militares, o Carlitos identificava-se assim no remetente:
Silvestre Rojo Sommel
Alferes Mil.º
SPM 1904
Acredito piamente que foi esse disfarce que o safou da merda que era levar com uma mina nos tomates.
Chegado a Mocímboa do Rovuma (fronteira com a Tanzânia), ajudou a construir o acampamento militar:
Parece um circo, um autêntico circo. Barracas de lona, luz eléctrica e palhaços, muitos palhaços, a começarem pelo capitão.
Estava eu a caminho de lhe seguir os passos na sagrada defesa do império quando o Carlos soube da notícia do meu casamento (o 1º de vários, a bem dizer...), notícia que o deixou particularmente entristecido:
...são logo dois azares juntos, a tropa e o casamento. O pior é que a tropa são só dois anos e o casamento é uma colhoada deles.
...
Homem de afectos e amizades mil, transferiu para os seus poemas muitos desses amores, entremeados pelo desejo de paz e liberdade:
Num quarto
Quatro paredes apenas

Lugar para uma janela
Que nunca se abriu
Lugar para muitas cenas
Que só em sonhos...

Lugar para se morrer
A sonhar com liberdade.
(Chioco, Moçambique - 12 JUN 71)
...
Faz hoje 6 anos que o Carlitos Luzio foi de abalada, que a guerra da vida não quiz a paz com ele. Despediu-se assim noutro dos seus poemas:
Chegou o momento de dizer adeus,
De emalar os meus sonhos
E tu os teus.
...
O Eugénio de Andrade diria que o Carlos foi com as aves.
Voa, voa, Amigo de tantos Amigos!
___
- Texto adaptado de "Carlos Luzio -  Pescador de Sonhos", 2005, Edição dos Amigos.
- Autor da foto: Carlos Micaelo.
- Ler  post com o Poema das Águas, no NOTICIAS DE BUSTOS.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pescador de sonhos

Com o aproximar de mais um aniversário da morte prematura dum amigo de sempre, recordo um bonito postal tridimensional que o Carlitos Luzio me enviou da puta da guerra, algures no norte de Moçambique.
Estava eu em vias de embarcar para Angola, onde também me esperavam "amantes" do calibre das que ele encontrou: algumas minas, emboscadas e, felizmente, alguns amores de ocasião.
Não fosse o inimigo dar com ele, nos muitos aerogramas (bate estradas) que me enviou, o Carlos identificava-se como
Silvestre Rojo Sommell
Alferes Miliciano
SPM 1904

sábado, 18 de setembro de 2010

Tem um parafuso a menos?

Se lhe falta um, não hesite.
SOPARAFUSO tem o que precisa.
E fica aqui tão perto, no Vale do Grou, Águeda.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa, ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.
__
- Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa (1940 * 1980) / Coração do Dia [1956-1958], Ed. Limiar.
- Retrato do poeta, de Emerenciano (1988), extraído de "O Outro Nome da Terra", Outubro de 1988, Ed. Limiar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O acord(e)ão

O Carlitos é um mestre de acordeão, disso ninguém tem dúvidas.
Terá começado por aprender de ouvido, em concertinas  emprestadas ou alugadas, exibindo os seus dotes em casas de amigos e pelos parques e avenidas da cidade grande.
Faltava-lhe, porém, o grande passo para a fama: conseguir o diploma de acordeonista, com direito a 460 sessões e um acordeão de bónus, ainda por cima um reputado fratelli.
Raio do acordeão, que tarda em chegar-lhe às mãos!
Mil vezes prometido, outras tantas adiado (agora sine die), vai valendo ao Carlitos a solidariedade dos colegas do mundo artístico.
Não há dia em que o Carlitos não apareça nas tv's e nos jornais a queixar-se do acordeão que não há meio de chegar.
E assim vai dando asas ao que de melhor sabe fazer:
- Dar-nos música!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A inocência perdida

Vai ser conhecido hoje o acordão do processo Casa Pia, fazendo o CSM questão de o divulgar no seu site. Mais um festim, com a decisão a passar pelo crivo dos especialistas, dos chico-espertos e dos treinadores de bancada.
O regabofe começou mal a investigação foi conhecida, sobretudo por via da divulgação na comunicação social de supostos factos incriminadores, cirurgicamente deixados escapar por uma qualquer garganta funda do processo.
A técnica é tão conhecida como os seus contra-venenos.
Ao arremedo de súmula da decisão (*) lida no passado dia 3 pelo colectivo de juízes, a defesa respondeu com conferências de imprensa, debates (deboches?) televisivos, entrevistas, vídeos, cartas de amor e/ou de recomendação e até ameaças de divulgação de mais nomes supostamente implicados no abuso de menores.
Já agora: se no entender dos arguidos a sentença constitui uma ignomínia, uma aberração, o regresso ao reino das trevas, o que dizer da divulgação de nomes referidos no processo mas que não chegaram a ser investigados?
Que objectivos se escondem por detrás dessa divulgação? Desespero? Espírito de vingança? Mais uma manobra de diversão?
Ou um aviso à navegação, do género, "quem te avisa teu amigo é"? Um recado à Justiça e aos julgadores que reapreciarão o processo em sede dos muitos recursos que hão-de vir, também eles cidadãos falíveis e pecadores como os demais?
A mediatização deste processo já mete nojo aos cães.
__
(*) Art.º 372º, n.º 3, do Cód. de Processo Penal: ...a leitura do relatório [da sentença] pode ser omitida. A leitura da fundamentação, ou, se esta for muito extensa, de uma sua súmula, bem como do dispositivo,é obrigatória, sob pena de nulidade.
- Imagem extraída daqui.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Canção para os mineiros chilenos

Pouca é a distância entre a vida e a morte.
O caminho – ponte entre o mundo de baixo
e o azul celeste –
é mais curto que o caminho daqui até lá baixo.
O mesmo que entre a vida e a morte.
__
- Canção dos índios Araucanos, extraída de “Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro”, Porto 2001, Assírio & Alvim, 3ª edição, pág. 130.
- Imagem: Lloncon, líder mapuche (ou araucano), povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina. [extraído da Wikipédia]

Sanjo: as sapatilhas reinventadas

Quem não se lembra das sapatilhas Sanjo, fabricadas em S. João da Madeira e que foram a coqueluche da malta nova até há uns 30 anos atrás?
Inicialmente produzidas em branco e preto, tinham 2 pequenas rodelas de borracha para proteger os tornozelos, um rebordo protector em borracha e biqueira protectora.
A marca existia desde os anos 20, mas as sapatilhas aparecem apenas nos anos 40. Em meados de 80 a concorrência estrangeira acabou com elas.
Voltaram há cerca de um ano, made in China.
As TV's e os jornais vêm falando delas, que as crises são propícias ao revivalismo.
Não faltam notícias das Sanjo,como aqui, ali, ou no no grupo de fãs do facebook.

sábado, 4 de setembro de 2010

A balança da Justiça - II

Do resumo do Acordão de Colectivo de Juízes do processo Casa Pia, dado à estampa pelo CSM:

Quanto ao arguido J…, que foi médico de alunos da Casa Pia e que continua a exercer a profissão,..."

"Quanto ao arguido H…, que foi advogado de defesa do arguido C… durante quase dois meses, mas que passou depois também à condição de arguido…

 
Nas sentenças já se mandam indirectas a outras corporações...

As manifs de Maputo e o facebook

Recomendo este texto do ma-schamba sobre o acesso à informação no decorrer da revolta popular em Maputo, onde se prova que o facebook é muito mais que engate, é informação viva e partilhada.
Talvez pelos afectos que a África gerou por via da puta da guerra ou da paz por encontrar, o Ma-schamba esteve sempre linkado nos meus blogues preferidos.
Já agora, lembro uma frase de Amílcar Cabral: o colonialismo não tem cor.
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- Imagem extraída de Cottage Style, via imagens do google.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Secretária portátil

Para quem gosta de trabalhar em férias ou no remanso do jardim ou do quintal, aconselho esta secretária portátil.

As imagens foram extraídas do blogue modaparahomens, para quem homem também tem de ter estilo.
- Apetece perguntar: quem, à sua maneira, não tem estilo?

O interessante Tim Vinke é um designer e escultor que vive e tem estúdio em Groningen / Holanda, com exposições e trabalhos apresentados na sua cidade e em Roterdam, Amesterdam e Berlim.