domingo, 5 de outubro de 2008

Dinis Machado

Lembro-me do Dinis Machado como redactor de 2 revistas de BD de que fui assinante nos anos 70/80: Tintin e Spirou.
Mas o país ficou a conhecê-lo melhor quando em 1977 publicou um romance que fez furor: O que diz Molero. Em finais dos anos 60, Dinis Machado escreveu 3 policiais sob o pseudónimo de Dennis McShade, habilidade para escapar aos tacanhos sensores da ditadura salazarista e atrair melhor os leitores habituados a nomes famosos da literatura policial anglo-saxónica. Como quem junta a fome à vontade de comer, explicou um dia que escrevera esses romances para pagar o leite da filha.
Dinis Machado sempre esteve muito ligado a Roussado Pinto (1926/1985), o famoso Ross Pynn dos policiais (o caso da mulher cega, o caso da mulher sádica e outros).
Passaram-me pelas mãos exemplares desses cobiçados policiais, sobretudo da “Colecção Rififi”, ao estilo muito em voga na literatura policial americana. Eram um sucesso e os raros exemplares que iam aparecendo corriam de mão em mão.
Não tarda, as livrarias estarão cheias de reedições de títulos de Dinis Machado e do seu heterónimo Dennis McShade. A morte tem o condão de reavivar a memória, mas depois, como disse o poeta dos heterónimos…
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes por ano pensam em ti.
Duas vezes por ano suspiram por ti os que te amaram.
e uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala de ti.

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Poesias de Álvaro de Campos, Edições Ática, 1980