domingo, 10 de outubro de 2010

Trinta dinheiros

No bengaleiro do mercado público
penduraram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curvam-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduraram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.
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- Manuel Alegre, Praça da Canção, 2ª edição, 1968, Editora Ulisseia.
- Imagem: recorte da contracapa de "O CANTO e as ARMAS", 1970, ed. Poesia Nosso Tempo. A foto foi tirada na Real República do Bota Abaixo, em Coimbra, onde passei parte dos meus tempos de faculdade.
- Lembrei a sua poesia, AQUI.