terça-feira, 29 de março de 2016

Carlos Luzio, pescador de tantos sonhos - I


O Carlos Luzio deixou um baú de poesia por editar e publicar.
Vai sendo tempo de acordar tanta poesia adormecida.
Doze anos antes de ir de abalada o Carlos soletrou este

Com "A" se escreve amor

Com "a" se escreve amor,
Com "a" se escreve o teu nome
Que tantas vezes tenho repetido.
Com "a" se escreve o teu apelido,
Com "a" de amor
Que partilhamos os dois.
Mas com "a" se escreve adeus
E morre o "a" quando se apaga o calor.
Não há "a" na palavra dor,
Mas aparece no final da angústia
De ser e de não ser
indiferente.
Depois renasce no "a" de ansiedade
E ganha mais força na amizade.
Por isso é que gostava de ser um artesão
Para moldar o teu rosto com a mão,
E desenhar uns lábios cor de rosa
E colorir a tua suave pele de um rude moreno,
E depois traçar no teu rosto o "a" de ameno
Para o pintar com o "a" de acariciar,
Deixando os meus dedos descer até à cintura
levando nas mãos os dois "a" de amar,
E nos meus lábios a febre da ternura
Que parece que se esquece
E que parece já não dura,
Com o "a" no final da vida
Que arrefece
Com o mesmo "a" à beira da loucura.
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- Poema datado de 24FEV92

terça-feira, 8 de março de 2016

Violência doméstica: é preciso castigar, custe o que custar

Faço questão de ser aquilo que a barra lateral direita deste bloguinho procura retratar: cão que não conhece dono, combatente de guerras perdidas, de costela anarquista e acérrimo defensor do chão que piso e dos seus símbolos.
Vem isto a propósito da premência em denunciar tudo o que seja desrespeitar o 1º dos dez mandamentos que Deus terá entregue a Moisés no monte Sinai: adorar a Mulher e amá-la sobre todas as coisas. 
Há quem não pense assim e mereça o inferno. Há, em Bustos, quem maltrate desalmadamente a mulher, a que devia ser companheira, mãe dos filhos e avó dos netos, balanço e aconchego do lar.
Como se não bastasse, essa estirpe de cães tinhosos ainda vai passando impune, que o medo ainda está instalado nas mentes acomodadas de muitas mães e avós.
Que fazer? Como reagir à continuação da barbárie?
Alvitro um de dois métodos:
a) Seguir os ensinamentos da lei penal, a qual manda que qualquer cidadão tem a obrigação de denunciar a prática de crimes públicos de que seja testemunha; e sendo público o crime de violência doméstica qualquer pessoa o pode denunciar, como vai melhor explicado AQUI.
b) Fazer justiça pelas próprias mãos, o que, por sua vez, também constitui ilícito penal.
A encomenda às escondidas deste método obriga a não deixar vestígios do ilícito à vista das autoridades. Em defesa do método até que não desanconselho outro método radical: chamar os ciganos pela calada da noite. Eu, pecador, me confesso: para mim, eles trabalham de graça, como uma vez me garantiram aquando dum mediático julgamento bem sucedido ali para os lados do Porto.
Já agora: os meus amigos ciganos são a melhor alternativa ao espalhafatoso "lobo mau", que lembrei AQUI.

Sobre o método, é só dizer, que sou todo ouvidos e até fui alferes miliciano de operações especiais, ranger dos puros e duros.

Em contraponto, há métodos violentos que não podemos evitar quando estão em causa fins nobres, como sejam os de alimentar as bocas da família e dos amigos, que são sempre os mais necessitados.
Foi o que fiz mal rompia o dia de ontem: dirigi-me ao galinheiro onde, subtilmente, com a ajuda duns enganadores grãos de milho, chamei à colação um dos três garbosos galos. Como já denunciei no facebook, em vez de contribuir para a continuação da espécie, o que tinha o ar mais gingão entretinha-se a dar bicadas nas infelizes galinhas e até num pato que se vai despedir deste mundo no próximo fim de semana.
Apesar dos protestos, submeti-o ao algoz do tradicional funil de alumínio e, zás, num golpe perfeito, esvai-lhe o sangue que aproveitei mal: com a pressa, esquececera-me do anticoagulante vinagre, o que me obrigou a comprar o dito num dos talhos locais.
Acreditem, não custou nada, que os fins justificam os meios, logo agora que caminho a passos largos para a defesa da tese de doutoramento em gourmet.
E que fins! Ao jantar, saiu-me um arroz de galo de se lhe tirar o chapéu.
Que o digam a Marina Ratola, marido Rui Capão e filho Tomás, convidados de honra, em geito de prémio pelo labor da Marina em cuidar da sempre jovem mãe Benilde (que lembro em retrato de família) e da limpeza e melhor arrumo da casa.

Sou todo ouvidos se conhecerem melhor método para dar sumiço aos galos de poleiro que não respeitam as regras do jogo, os tais que andam por aí a dar violentas bicadas nas maltratadas galinhas do nosso contentamento.
Cacarejar noite e dia, a gente até desculpa, sobretudo aos depenados galos em idade de reforma. Agora andar para aí a dar infrutíferas bicadas no mulherio do galinheiro, isso é que não se admite. Cá por mim, fazem-no para disfarçar a falta de jeito, escasseia-lhes a ternura, o trato fino, para não dizer que de tanto picarem perderam a pica, matéria que só o divã duma boa psicanalista como esta pode sarar.
Panela com eles e se for daquelas "hok", melhor: aprendi que a carne sai mais saborosa que na panela de pressão.
Aprendam, que eu não duro sempre!

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Filme luso-francês rodou cena em Bustos

Em princípios de 2011 escrevi no Notícias de Bustos um texto em que trouxe à baila a interessante história dum filme luso-francês com o título DÉDÉ, filmado em 1990 e em que aparece uma cena de baile dos anos 50 filmada no salão de baile de Bustos.
Não faltaram jovens raparigas e rapazes, a par de algumas mulheres e homens adultos de Bustos, a entrar na fita. 
Todos contratados como figurantes, a troco duns escudos.
O texto animou as hostes e deu-se o caso da discussão ter gerado luz.
Leiam-no no Notícias de Bustos, que vale a pena. Se faz favor, dêm um clic com o ratinho aqui mesmo. Vão ver que vale a pena.

(as atrizes Diana Rodelo, Gladys del Carmen e Anita Luzio)
*
Tempos depois, entreguei uma estafada cópia da cassete do filme ao sempre prestável Telmo Domingues, a fim de a tentar adaptar para CD. Sem sucesso.
Obtive a cópia por indicação do bom amigo Cipriano Nunes, que continua por terras de França. 
O Cipriano anda um pouco calado, se calhar porque Bustos tem sido tratado abaixo de cão, embora não faltem promessas de voltarmos a ser o paraíso do concelho, uma espécie de nirvana ou Changri-Lá.
A talhe de foice:
Tenho ganho algum tempo a vasculhar textos publicados no NB e aquilo é um fartote de rir quando se aproximam as eleições locais.
A razão da minha busca é simples: já se sente no ar a preparação dos exércitos partidários locais, pelo que não tarda muito e lá regressará mais uma vez a diarreia das promessas, essa espécie de "período" ou cio que ataca de 4 em 4 anos.
Não tardarão as juras de amor e outras tretas, que ficam bem, sim senhor, mas é quando nos apaixonamos assolapadamente, perdidos de amor.
Até para quem está perto das 68 bonitas primaveras (com alguns invernos de permeio) deve ter a sua graça e estou tentado em voltar a experimentar.
É certo que não será a 1ª vez, a tal que é muito saborosa, como lembrei aqui
Quanto a esta matéria, que é tabu para muitos mas de lana caprina para mim, estou com ganas de voltar a experimentar.
Ando a fazer trabalho de casa e sinto-me quase preparado para saltar para a espinha do 1º político ou política local que aparecer a prometer mundos e fundos para Bustos.
Escusam de me pedir para ser mais educado: vai ser logo ali, à frente de todos, como terá feito o cão cá de casa, de seu nome gatuso, que andou uma semana a alambazar-se com uma linda cadelita que apareceu cá na rua e que o levou com ela durante uma semana inteirinha. o sacaninha regressou ontem de manhã, escanzelado como um cão, com a dita na esteira, submissa mas com ares de quem curtiu à tripa fôrra.


Também estou em fazê-lo, a arrimar-me a eles e a elas, a não ser que os mais educados me peçam para utilizar métodos mais expeditos e civilizados, como, por exemplo, mandá-los para um sítio que eu cá sei mas que agora não digo.
Aceitam-se sugestões alternativas, como aquela de 1994, aquando dos boicotes locais às eleições para o parlamento europeu: não votámos e fizemos do boicote uma festa verdadeiramente popular.
Como se aceitam interessados na ninhada que também não tarda aí, decorridos que sejam os dois meses de gravidez canina.
A propósito, pergunto ao parisiense Cipriano: porque Paris em França e não paris em vossas casas?
Enquanto a resposta vem e não vem, vou ali e já venho...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Carlos Luzio: poesia de guerra/poesia de paz

No inesquecível almoço/espectáculo de encerramento das comemorações do Dia de Bustos, emocionado e envolvido, li o seu poema das águas, que podem reler no Notícias de Bustos.
A meu ver, mais do que a poesia do seu dia a dia de encontros felizes e infelizes, de encontros com a morte que sabia estar à sua espera de gadanha em punho, pronta para o ceifar no momento final...
...até mais do que a poesia do amor, que tão bem retratou a partir do próprio teatro da guerra colonial que viveu na fronteira norte de Moçambique no fantástico e inebriante Poema para esquecer...
...ou em Mulher da rua...
...o Carlitos deixou-nos poemas de guerra carregados de dor e raiva.
Por razões à vista, o que mais me marcou arrastei-o para o blogue que criei sobre a minha gloriosa unidade militar de intervenção em terras angolanas, a CART 3564, onde a palavra camarada fez verdadeiro sentido.
Esta companhia de criados para todo o serviço da ditadura salazarenta dependia dum tal Comando Operacional de Tropas de Intervenção (COTI 1) sediado com todas as comodidades em Luanda e que estava sob as ordens duns oficiais superiores com quem lidei diretamente durante 4 meses e que não passavam dumas grandessíssimas bestas, tudo gente tão convencida e oportunista como os nossos políticos de hoje, não fossem o ar condicionado e os demais luxos de Luanda ou de Lisboa altamente inspiradores.
O texto onde chamo o Carlos à minha guerra pode ser lido AQUI e recomenda-se.
*
Lembrar o Carlos Manuel dos Santos Luzio, o Carlitos Luzio, poeta de Bustos/de Bustos poeta...
...é lembrar que estamos vivos, mas mortinhos por viver e agir.
É lembrar que nada acontece por acaso...

...mesmo nada!
Até o futuro parece estar logo ali ao virar da esquina, a anunciar o caminho da primavera. 
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- Fotos do autor e do sempre presente e envolvido Sérgio Pato, em Bustosgrafias.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Triunfar ou perecer



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- Hino da Maria da Fonte, cantado pelo Vitorino.
- Sobre a Revolução do Minho (1846), podem começar por AQUI.
- O hino da Maria da Fonte é um Hino Nacional, de valia quase igual à Portuguesa. É usado para saudar altos cargos militares e ministros da Republica.
- Sobre o resto, puxem pela cabecinha, que ela não explode...

domingo, 31 de janeiro de 2016

Regressar às origens

A mal conhecida e envergonhadamente escondida história do movimento macknovista continua a perseguir-me, sempre pela positiva.
Vale a pena, vale mesmo a pena, lembrar um pouco da sua fantástica história:

Nestor Ivanovich Mackno nasceu na Ucrânia em 1888. Azar dele, tendo em conta que no decorrer a 2ª grande guerra (1939/45) muitos ucranianos - demasiados ucranianos - traíram a pátria soviética na justa luta contra Hitler, pondo-se ao lado dessa nojeira que foi o nazismo.
A partir de julho de 1918, Mackno passou a liderar um poderoso exército de matriz anarquista que se opôs ferozmente ao bolchevismo vermelho dos primeiros anos da revolução russa. 
Não fica mal lembrar que, antes, Mackno começou por se opor ao anticomunista exército branco que defendia o regresso ao czarismo. 
Nem branco, nem vermelho, o numeroso exército macknovista adoptou o preto, cor de eleição de qualquer anarquista que se preze.

Em maio de 1923, o anarquista russo Voline prefaciou este fantástico livro da autoria de Piotr Archinov.
O movimento macknovista foi - e passo a citar o autor do prefácio deste livro que guardo religiosamente desde 1976 - “produzido pura e unicamente pelas camadas mais baixas das massas populares, estranhas a toda a pretensão de esplendor, de dominação e de glória…
Desenrolando-se, quase sem intervalos, em condições de luta armada incrivelmente tenazes e penosas; rodeado de todas as partes de inimigos; com poucos adeptos fora das esferas não trabalhadoras; combatido sem quartel pelo partido dominante…tendo perdido, pelo menos, 90 por cento dos seus melhores participantes…o movimento deixou poucos documentos vivos.

Ao slogan bolchevista “a terra a quem a trabalha”, Mackno contrapunha um slogan muito do meu gosto: a terra é de quem a trabalha!
Se não for assim, com que alma vamos buscar forças para defender as nossas raízes?
Sem raízes nossas, plantadas por nós nas terras que nos viram nascer, sem essa matéria-prima, donde vamos alimentar a seiva que nos fortalece?
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Em 1976, regressado da puta da guerra colonial há um par de anos, abracei de alma e coração o anarquismo puro e duro.
- É dele que guardo os restos que ilustram este blogue, aqui ao lado, na barra direita.
- Herdei dele o “cão que não conhece dono”, que o maldito vírus pirateou e agora não está lá mas há-de voltar.
- Dele herdei o contra senso da minha 1ª grande guerra, onde fiz tudo o que um verdadeiro anarquista odeia: a guerra, sem medo, por sinal armado em herói estúpido, de peito feito às balas, que a morte não era com o alferes miliciano ranger que eu exercitei, nem com os meus bravos, que um dia jurei trazer a todos, bons do corpo, mas abalados da alma.
- Por excelência, dele herdei o contraponto do Léo Ferré: "dans le coktail molotov il faut metre du martini, mom petit".
- No meio desta caldeirada de senso e de falta dele, também dele herdei uma certa imagem do torreão da ABC de Bustos, imagem retratada AQUI.

O Serginho, de sua graça Sérgio Micaelo Ferreira, bustuense de gema e agora a modos que retirado (atirado?) lá para os confins da serra interior, foi dos que acertou na mouche, me cheirou à distância e me tirou a preceito as medidas do fato que o Ti Adriano alfaiate da nossa juventude me fazia da raíz do tecido, quando anunciei pomposamente a criação do meu blogue pessoal e intimista. À data (6/8/2008), o Serginho saiu-se com esta posta.

Vê lá mas é se apareces, ó trânsfuga, que está por fazer a verdadeira revolução, a tal que ficou na gaveta quando o 25 de Abril saiu à rua!
Ou pensas que mudou o que de mais importante havia para mudar?
A mim parece-me que faz falta mudar as mentes e tantos usos e costumes do reino. 
Feita a mudança, é fácil acabar ou reduzir ao mínimo a podridão dos interesses instalados, do poder da manjedoura, dos compadrios, dos favores e da corrupção à fartazana?
Pensarás tu que tendo mudado de burro mudaste de moleiro?
Se pensas, estou como diz o povo: estás muito mal enganado!
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P.S. (salvo seja): do meu anarco-sindicalismo, até acabar no Mackno, disse muito AQUI.