sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os dióspiros e a crise

As recentes chuvas vão acabar de vez com eles. Os que não racharem com o excesso de água irão perder aquele sabor adocicado e envolvente. Estão nas oitavas da festa, a modos de quem se despede até para o ano se Deus quiser. 
Decidi o que fazer aos dióspiros que ainda restam na garbosa árvore do quintal: os que não tiverem préstimo para comer ofereço-os às galinhas, petisco que adoram, tal a ferocidade com que disputam os que lhes lanço às patas.
Os quintais das aldeias bairradinas são um alforge de fartura e riqueza frutícola: ele são as laranjas, os figos, as peras, os quivis, as ameixas das mais variadas qualidades, os limões e até as maçãs por quem passo como cão que não conhece dono.
As galinhas que ajudo a alimentar adoram a fruta que quase diariamente lhes ofereço. Ainda por cima não são esquisitas: comem do que lhes damos, não reclamam e, invariavelmente, são sacrificadas para satisfazer a nossa gula.
Bem vistas as coisas, há uma espécie de luta de classes entre os humanos e as aves de capoeira: a troco dum mísero salário vendem-nos a sua única força de trabalho, a carne gostosa e até os ovos cuja fartura vai minguando à medida que o frio aumenta.
Tanta riqueza gerada a troco de tão baixos custos de produção!
Como não me incluo no grupo dos capitalistas e exploradores, pago-lhes muito acima do salário mínimo nacional e não lhes reduzo nem corto os benefícios sociais.
Se alguém tem que pagar a crise que sejam os ricos e poderosos.
As galinhas é que não!
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- Falei dos dióspiros AQUI.
- Recomendo vivamente a crónica do Belino Costa sobre os quivis da nossa aldeia, no NOTÍCIAS DE BUSTOS.