Em Agosto de 2007 passei uns dias na Galiza, que é já ali. E como queria ver de perto a cultura dos bivalves, fui ao Grove (em rigor, O Grove ou Ogrove) dar uma volta nos barcos de casco panorâmico.
A ria de Arouca está infestada de plataformas flutuantes, chamadas "bateas de mexillón", que ali foram introduzidas a partir de 1946 por empresários catalães.
Cada batea leva cerca de 500 cordas, que podem ir até aos 12m de profundidade, cordas essas onde o mexilhão pequeno - a par doutros bivalves - começa por ser preso depois de metido numa rede biodegradável. Ao fim de 7/8 dias o mexilhão larga aquele pêlo que lhe conhecemos e com o qual se agarra à corda. Em média, é recolhido para consumo ao fim de quase 2 anos tal como acontece com a ostra; as vieiras são mais precoces, bastando um ano para acabarem à nossa mesa.
Durante o passeio de barco são-nos servidos os famosos mexillóns, de fácil receita: cozem-se em vinho branco, com louro. O petisco é acompanhado com o Loureiro branco da região de Orense.
Os nossos irmãos galegos não brincam em serviço e sabem promover os seus produtos nativos. Chegaram ao ponto de criar para o mexilhão local uma "Denominatión de Orixe Mexillón de Galicia". Aliás, são pelo menos 27 os produtos da Galiza classificados com denominação de origem protegida. Eu disse 27, só na Galiza!
E nós por cá?
Em 1946, o ditador bafiento que foi Salazar impunha-nos uma vida de miséria franciscana. Para ele, enclausurados é que estávamos bem: nada de estrangeirices e muito menos progresso, não fosse o diabo tecê-las. De Espanha, nem bom vento nem bom casamento...
E se a Revolução de Abril acabou com a clausura, já os fundos da então CEE foram mais úteis na compra de Mercedes e de casa nova, tudo ao estilo novo-rico.
Já agora, ela que fica aqui tão perto: a ria de Aveiro, serve para quê?
Para dar uns passeios de mercantel ou moliceiro e para alguma piscicultura a viver momentos de amargura, deixando o vasto potencial da ria entregue aos mosquitos.
E de quem é a culpa?
Dos sucessivos governos, pois claro; mas também dos nossos autarcas.
E tudo porquê?
Porque, bem lá no fundo, continuamos enclausurados por dentro.
É por estas e por outras que continuamos a anos-luz dos nossos irmãos galegos.
*
- Editei alguns textos sobre a Galiza no NB, que podem ler AQUI, ALI e ACOLÁLEM.
A ria de Arouca está infestada de plataformas flutuantes, chamadas "bateas de mexillón", que ali foram introduzidas a partir de 1946 por empresários catalães.
Cada batea leva cerca de 500 cordas, que podem ir até aos 12m de profundidade, cordas essas onde o mexilhão pequeno - a par doutros bivalves - começa por ser preso depois de metido numa rede biodegradável. Ao fim de 7/8 dias o mexilhão larga aquele pêlo que lhe conhecemos e com o qual se agarra à corda. Em média, é recolhido para consumo ao fim de quase 2 anos tal como acontece com a ostra; as vieiras são mais precoces, bastando um ano para acabarem à nossa mesa.
Durante o passeio de barco são-nos servidos os famosos mexillóns, de fácil receita: cozem-se em vinho branco, com louro. O petisco é acompanhado com o Loureiro branco da região de Orense.
Os nossos irmãos galegos não brincam em serviço e sabem promover os seus produtos nativos. Chegaram ao ponto de criar para o mexilhão local uma "Denominatión de Orixe Mexillón de Galicia". Aliás, são pelo menos 27 os produtos da Galiza classificados com denominação de origem protegida. Eu disse 27, só na Galiza!
E nós por cá?
Em 1946, o ditador bafiento que foi Salazar impunha-nos uma vida de miséria franciscana. Para ele, enclausurados é que estávamos bem: nada de estrangeirices e muito menos progresso, não fosse o diabo tecê-las. De Espanha, nem bom vento nem bom casamento...
E se a Revolução de Abril acabou com a clausura, já os fundos da então CEE foram mais úteis na compra de Mercedes e de casa nova, tudo ao estilo novo-rico.
Já agora, ela que fica aqui tão perto: a ria de Aveiro, serve para quê?
Para dar uns passeios de mercantel ou moliceiro e para alguma piscicultura a viver momentos de amargura, deixando o vasto potencial da ria entregue aos mosquitos.
E de quem é a culpa?
Dos sucessivos governos, pois claro; mas também dos nossos autarcas.
E tudo porquê?
Porque, bem lá no fundo, continuamos enclausurados por dentro.
É por estas e por outras que continuamos a anos-luz dos nossos irmãos galegos.
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- Editei alguns textos sobre a Galiza no NB, que podem ler AQUI, ALI e ACOLÁLEM.
- E já fui pescador semi-profissional de robalo na boca da barra; de barquito, pois claro.
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