terça-feira, 19 de agosto de 2008

Carro de bois

Carro de bois, procura-se

Desapareceu do pátio da casa que habitava enquanto os donos jantavam despreocupadamente num restaurante a cerca de 50m.
O governo pôs todas as polícias e meios ao seu alcance à procura do infeliz desaparecido.
Entrevistado pela nossa redacção, confessou entristecido o director da PJ:
- É uma pena, sabe. Tratava-se dum exemplar quase único ainda no activo. Era um ex libris que os turistas - sobretudo os queridos ingleses – adoravam registar nas suas máquinas digitais. Ainda por cima, os poucos que se conhecem ou jazem mortos a decorar os jardins fronteiros dalgumas casas da região ou estão atravancados no meio de tudo quanto é tralha, inacessíveis à nossa investigação.
Que raio de coincidência! Este caso faz-me lembrar o daquela menina inglesa que desapareceu, sabe a Madalena, aquela…

*
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada.
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Poemas de Alberto Caeiro
Colecção Poesia, Ed. Ática, 9ª ed., pág. 42

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