quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ração de combate: os dias da fome

Era uma ou mais caixas destas que levávamos para as operações de 2, 3 e até 4 dias, mato adentro.
Safavam-me as latas sul-africanas de fruta em calda que comprava na cantina do buraco chamado "aquartelamento"; a maior parte do conteúdo das rações distribuía-o democraticamente pelos bravos do grupo de combate.
Tudo gente do melhor que havia ao cimo da terra, verdadeiros camaradas a quem tratava por "Sr. Silva", "Sr. Santiago" ou "Sr. Adão".

Gente a quem ensinei o que era a liberdade, a democracia e até a Convenção de Genebra (foram centenas os prisioneiros que fizemos em 26 meses de comissão). Mas também gente que decidiu não estar ali para morrer.
O stress das operações constantes e uma ementa destinada a quem não passava de carne para canhão tiveram o efeito desejado: uma úlcera duodenal atirou-me para o Hospital Militar de Luanda durante 40 dias.
Parece que a úlcera continua, que a guerra está para durar, durar...

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