sábado, 21 de março de 2009

Anda livre na rua e não conheças a tristeza

Poema das Águas
Entre tantos poemas
Este é feito de água apenas
Água benta
Para quando o diabo atormenta
Água potável
Para o corpo estar saudável
Água quente
Para um banho urgente
Água fria
Para começar bem o dia
Água de colónia
Para cheirar bem na cerimónia

Água do mar
Para lançar a rede e pescar
Água do rio
Para servir de caminho ao navio
Água salgada
Para aliviar os pés da longa caminhada
Água do Jordão
Para dar baptismo ao novo cristão
Água do Sena
Para inspirar este poema

Água canforada

Para que a dor seja ultrapassada
Aguarela
Para que o teu rosto fique pintado na tela
Gin com água tónica
Para uma viagem supersónica
Aguardente
Para bochechar quando dói o dente
Água mineral
Com bolachas de água e sal
Para quando o fígado andar mal
Água doce

Para matar a sede que o Verão trouxe

Água destilada
Para que a bateria não fique descarregada
Água oxigenada

para que a ferida fique sarada
Água inquinada
Que não serve mesmo para nada
Água da chuva
Que no Verão assenta como uma luva

Água pesada
Com uma força astronómica
Misturada com plutónio
Faz uma bomba infamemente atómica

Para nos queimar o último neurónio
Que nos reduz a nada
Pobre povo ancestral do Japão
Que ainda hoje não levanta os olhos do chão
Água do Tigre
Água do Eufrates
Onde se morre em estúpidos combates
E eu passeio-me triste e cabisbaixo
Vendo como o planeta vai por água abaixo...
_
Carlos Luzio\Pescador de Sonhos\"Poema das Águas", escrito a 26-5-2004\Livro editado pelos Amigos em 2005.
Soube tão bem ler-te este poema, ali onde sentes o odor dos cravos vermelhos!

3 comentários :

Vanda Mª Madail Rafeiro disse...

Li já muitas vezes, leio e releio... Este poema é um mundo!
Vanda

oscar santos disse...

Olá, Vanda!
Sei que estás cá,
sempre.
Connosco
E com ele.
Um beijo
de quem lembra a noite imorredoura daquele post no NOTICIAS DE BUSTOS sobre a morte da Ti Cremilde [2.9.08 - "Ti Cremilda: um grande amor por detrás das tardes do Piri-Piri"], com resposta tua no dia 9 seguinte ["A noite quente do Piri-Piri"].
Na mesma madrugada e já este meu bloguinho mais pró intimista, peguei no assunto sob outro registo ["Tardes do Piri-Piri"].
Sabe bem PARTILHAR, porque sem partilha a vida não tem sentido.
Pior que isso: perde a graça em que o CARLITOS era Mestre, como era Mestre a olhar o Mundo através das imagens, dos sons e da poesia.
Disse quase tudo sobre ele, não foi?

Vanda Mª Madail Rafeiro disse...

Obgd, Óscar - disseste muito e sabes muito sobre o que não disseste. Fico muito feliz quando vejo e sinto que o Carlos continua aqui no meio dos que o apreciavam.
Continuarei por aqui, e por Bustos; aqui Amigos e Família.
Um abraço... e continua a escrever.