sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os dióspiros e a crise

As recentes chuvas vão acabar de vez com eles. Os que não racharem com o excesso de água irão perder aquele sabor adocicado e envolvente. Estão nas oitavas da festa, a modos de quem se despede até para o ano se Deus quiser. 
Decidi o que fazer aos dióspiros que ainda restam na garbosa árvore do quintal: os que não tiverem préstimo para comer ofereço-os às galinhas, petisco que adoram, tal a ferocidade com que disputam os que lhes lanço às patas.
Os quintais das aldeias bairradinas são um alforge de fartura e riqueza frutícola: ele são as laranjas, os figos, as peras, os quivis, as ameixas das mais variadas qualidades, os limões e até as maçãs por quem passo como cão que não conhece dono.
As galinhas que ajudo a alimentar adoram a fruta que quase diariamente lhes ofereço. Ainda por cima não são esquisitas: comem do que lhes damos, não reclamam e, invariavelmente, são sacrificadas para satisfazer a nossa gula.
Bem vistas as coisas, há uma espécie de luta de classes entre os humanos e as aves de capoeira: a troco dum mísero salário vendem-nos a sua única força de trabalho, a carne gostosa e até os ovos cuja fartura vai minguando à medida que o frio aumenta.
Tanta riqueza gerada a troco de tão baixos custos de produção!
Como não me incluo no grupo dos capitalistas e exploradores, pago-lhes muito acima do salário mínimo nacional e não lhes reduzo nem corto os benefícios sociais.
Se alguém tem que pagar a crise que sejam os ricos e poderosos.
As galinhas é que não!
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- Falei dos dióspiros AQUI.
- Recomendo vivamente a crónica do Belino Costa sobre os quivis da nossa aldeia, no NOTÍCIAS DE BUSTOS.

domingo, 10 de outubro de 2010

Trinta dinheiros

No bengaleiro do mercado público
penduraram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curvam-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduraram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.
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- Manuel Alegre, Praça da Canção, 2ª edição, 1968, Editora Ulisseia.
- Imagem: recorte da contracapa de "O CANTO e as ARMAS", 1970, ed. Poesia Nosso Tempo. A foto foi tirada na Real República do Bota Abaixo, em Coimbra, onde passei parte dos meus tempos de faculdade.
- Lembrei a sua poesia, AQUI.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Festejar a República

Insisto muito no passado histórico. Faço-o, como diria José Gil, por uma vontade desesperada de me inscrever, de registar para dar consistência ao que tende a desvanecer-se.
O início da República que hoje se comemora assentou na defesa da liberdade e da fraternidade e na promoção da instrução (palavra hoje em desuso) e da solidariedade.
O exemplo mais vivo desses valores  pode ser encontrado na freguesia vizinha do Troviscal, que hoje se empenha na celebração da República.
É para lá que vou daqui a pouco, sem me deixar iludir pela representação misticista e exaltada da história da 1ª República.
Como escrevi no Notícias de Bustos, celebrar a República passa também pela lembrança de que foi por via dos erros cometidos entre 1910 e 1926 que nasceu a ditadura.
Conviria aos republicanos inscrever esse dado histórico nas memórias do real.
Não venha o voto popular excomungar-nos!
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- Portugal Hoje / O Medo de Existir, de José Gil, Relógio D'Água Editores, Nov. de 2004.
- Capa do livro Troviscal Republicano - Banda excomungada Clero interdito, de Silas Granjo, 2010, publicação e comercialização do Sítio do Livro.

domingo, 3 de outubro de 2010

Há só vento no meu país

Vento
vento
há tanto
há só vento no meu país
vento branco
verde vento negro
ardente
seca as lágrimas
corta a voz na raiz.
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- Imagem: Costa Nova, hoje de manhã.
- Poema: Peniche, de Eugénio de Andrade, in Escrita da Terra [1970-1978].

sábado, 2 de outubro de 2010

Sempre os mesmos a pagar a crise

Para quem tem memória curta, convém lembrar que as políticas capitalistas e neo-liberais começaram, pelo menos, com Cavaco 1º ministro, até atingirem o despautério dos dias que correm.
Desde a 1ª hora, o acesso aos fundos comunitários serviu essencialmente para desbaratar dinheiro, inventar bancos vocacionados para lavar dinheiro e para investir ao deus-dará antes que a mama acabe. Em suma e sem ser exaustivo, encher a bolsa de empresários, políticos, formadores e até distribuir umas migalhas por alguns agricultores cá do burgo que faziam de conta que semeavam milho para receber subsídios. Uma verdadeira cadeia alimentar feita regabofe, com ou sem submarinos pelo meio para defender a pátria e honrar o império.
Só nos falta outra vez o FMI que tudo prevê e cura, mas que assobiou para o lado aquando da previsível bancarrota trazida em 2008 com a especulação bolsista e as habilidades com os créditos de risco (subprimes) e os fundos de pensões.

Resultado: ontem como hoje,  a crise vai ser paga por quem não lhe deu causa. 
Como não chegará, vai a ajudinha de mais habilidades com fundos de pensões e com as compras transversais de carros blindados para a cimeira da NATO enquanto às polícias falta gasolina para policiar.
O FMI e os mercados financeiros podem dormir descansados: se as coisas piorarem, há sempre um califa para o lugar do califa.
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Imagem:  contracapa d' “As conspirações do Grão-Vizir Iznogoud”, de Goscinny e Uderzo, Edição Meribérica.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Uma campanha alegre

Singular temperamento o do discurso da coroa!
Todo o mundo está desiludido, só ele espera!
Segundo ele o País floresce, enriquece, e o Paraíso está ainda mais perto que a Outra Banda. É tentarmos um passo, um leve esforço, e entrarmos para sempre na tranquilidade augusta da perfeição...
Há só um ponto negro que assusta o discurso da coroa: é a questão da fazenda. No entanto, o discurso da coroa, cada vez que aparece em público, promete resolver a questão da fazenda.
...
E aí vem o discurso da coroa abrir de novo as cortes, rosnando com a mão no peito:
- Pois senhores, palavra de honra, agora a todo o custo, impreterivelmente, havemos de resolver a questão da fazenda, etc..
____
- Eça de Queiroz, Uma Campanha Alegre, de «As Farpas», I Volume, Lello & Irmão - Editores, Porto, 1965, págs. 109 a 111. 

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Poema da noite plácida...

...enquanto o orçamento vai e vem:

A multidão em fúria
passeia plàcidamente nas ruas da cidade,
plácida mente,
enquanto os homens que orientam plàcidamente
a multidão em fúria
que plàcidamente passeia nas ruas da cidade,
procuram furiosamente
as soluções plácidas
que orientarão a multidão em fúria
que, plàcidamente, passeia nas ruas da cidade,
de mente plácida,
plácida mente,
e os sábios buscam furiosamente
as fórmulas plácidas
que, plàcidamente,
resolverão as dificuldades da multidão em fúria
que passeia nas ruas da cidade
de mente plácida,
plácida mente,
e todos, em suma,
plàcidamente,
procuram furiosamente,
de todas as formas plácidas,
atender às inquietações e aos anseios plácidos
da multidão em fúria
que, plàcidamente, passeia nas ruas da cidade,
e plàcidamente se assenta nos plácidos bancos das avenidas,
bebendo o ar plácido da noite,
e esperando, plàcidamente,
as soluções plácidas
para os seus anseios e inquietações furiosas.
___
António Gedeão, Linhas de Força, 1967, Edição do autor [comprado em Coimbra, em Setembro de 1969].

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Andam dióspiros no meu quintal

Aí estão eles de novo, à consideração da passarada.
A ver se sobram para mim e para quem mais lhes chegue.
Trouxe-os aqui à colação.
Mas ficam a saber que, ao contrário do que determina o art.º 2.104º do Código Civil. os que eu comer não serão restituídos para efeitos de igualação.
Como os que me dá na real gana e, pronto, as contas estão feitas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O PESCADOR DE SONHOS

Nascido a 10/8/1947, o Carlos Luzio viveu a mesma infância e juventude que tantos de nós: entre escola, colégio e frenéticas férias do mais puro gozo, traquinices, malfeitorias e bailaricos de entesoar.
Mal teve tempo de acabar o então 7º ano do liceu em Oliveira do Bairro. Em Setembro de 1970 atracava disfarçado de alferes miliciano no porto de Nacala, região moçambicana do Cabo Delgado. Esperava-o, como a tantos de nós, aquilo a que chamava a puta da guerra.
Guardo desse tempo uma preciosa colecção de cartas (sobretudo, em forma dos célebres bate-estradas), que me ia enviando do código postal militar que não identificava o local da origem, não fosse o inimigo saber onde a malta estava a derramar a juventude.
Ciente disso e num rasgo único de fidelidade à Pátria e aos seus segredos militares, o Carlitos identificava-se assim no remetente:
Silvestre Rojo Sommel
Alferes Mil.º
SPM 1904
Acredito piamente que foi esse disfarce que o safou da merda que era levar com uma mina nos tomates.
Chegado a Mocímboa do Rovuma (fronteira com a Tanzânia), ajudou a construir o acampamento militar:
Parece um circo, um autêntico circo. Barracas de lona, luz eléctrica e palhaços, muitos palhaços, a começarem pelo capitão.
Estava eu a caminho de lhe seguir os passos na sagrada defesa do império quando o Carlos soube da notícia do meu casamento (o 1º de vários, a bem dizer...), notícia que o deixou particularmente entristecido:
...são logo dois azares juntos, a tropa e o casamento. O pior é que a tropa são só dois anos e o casamento é uma colhoada deles.
...
Homem de afectos e amizades mil, transferiu para os seus poemas muitos desses amores, entremeados pelo desejo de paz e liberdade:
Num quarto
Quatro paredes apenas

Lugar para uma janela
Que nunca se abriu
Lugar para muitas cenas
Que só em sonhos...

Lugar para se morrer
A sonhar com liberdade.
(Chioco, Moçambique - 12 JUN 71)
...
Faz hoje 6 anos que o Carlitos Luzio foi de abalada, que a guerra da vida não quiz a paz com ele. Despediu-se assim noutro dos seus poemas:
Chegou o momento de dizer adeus,
De emalar os meus sonhos
E tu os teus.
...
O Eugénio de Andrade diria que o Carlos foi com as aves.
Voa, voa, Amigo de tantos Amigos!
___
- Texto adaptado de "Carlos Luzio -  Pescador de Sonhos", 2005, Edição dos Amigos.
- Autor da foto: Carlos Micaelo.
- Ler  post com o Poema das Águas, no NOTICIAS DE BUSTOS.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pescador de sonhos

Com o aproximar de mais um aniversário da morte prematura dum amigo de sempre, recordo um bonito postal tridimensional que o Carlitos Luzio me enviou da puta da guerra, algures no norte de Moçambique.
Estava eu em vias de embarcar para Angola, onde também me esperavam "amantes" do calibre das que ele encontrou: algumas minas, emboscadas e, felizmente, alguns amores de ocasião.
Não fosse o inimigo dar com ele, nos muitos aerogramas (bate estradas) que me enviou, o Carlos identificava-se como
Silvestre Rojo Sommell
Alferes Miliciano
SPM 1904

sábado, 18 de setembro de 2010

Tem um parafuso a menos?

Se lhe falta um, não hesite.
SOPARAFUSO tem o que precisa.
E fica aqui tão perto, no Vale do Grou, Águeda.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa, ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.
__
- Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa (1940 * 1980) / Coração do Dia [1956-1958], Ed. Limiar.
- Retrato do poeta, de Emerenciano (1988), extraído de "O Outro Nome da Terra", Outubro de 1988, Ed. Limiar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O acord(e)ão

O Carlitos é um mestre de acordeão, disso ninguém tem dúvidas.
Terá começado por aprender de ouvido, em concertinas  emprestadas ou alugadas, exibindo os seus dotes em casas de amigos e pelos parques e avenidas da cidade grande.
Faltava-lhe, porém, o grande passo para a fama: conseguir o diploma de acordeonista, com direito a 460 sessões e um acordeão de bónus, ainda por cima um reputado fratelli.
Raio do acordeão, que tarda em chegar-lhe às mãos!
Mil vezes prometido, outras tantas adiado (agora sine die), vai valendo ao Carlitos a solidariedade dos colegas do mundo artístico.
Não há dia em que o Carlitos não apareça nas tv's e nos jornais a queixar-se do acordeão que não há meio de chegar.
E assim vai dando asas ao que de melhor sabe fazer:
- Dar-nos música!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A inocência perdida

Vai ser conhecido hoje o acordão do processo Casa Pia, fazendo o CSM questão de o divulgar no seu site. Mais um festim, com a decisão a passar pelo crivo dos especialistas, dos chico-espertos e dos treinadores de bancada.
O regabofe começou mal a investigação foi conhecida, sobretudo por via da divulgação na comunicação social de supostos factos incriminadores, cirurgicamente deixados escapar por uma qualquer garganta funda do processo.
A técnica é tão conhecida como os seus contra-venenos.
Ao arremedo de súmula da decisão (*) lida no passado dia 3 pelo colectivo de juízes, a defesa respondeu com conferências de imprensa, debates (deboches?) televisivos, entrevistas, vídeos, cartas de amor e/ou de recomendação e até ameaças de divulgação de mais nomes supostamente implicados no abuso de menores.
Já agora: se no entender dos arguidos a sentença constitui uma ignomínia, uma aberração, o regresso ao reino das trevas, o que dizer da divulgação de nomes referidos no processo mas que não chegaram a ser investigados?
Que objectivos se escondem por detrás dessa divulgação? Desespero? Espírito de vingança? Mais uma manobra de diversão?
Ou um aviso à navegação, do género, "quem te avisa teu amigo é"? Um recado à Justiça e aos julgadores que reapreciarão o processo em sede dos muitos recursos que hão-de vir, também eles cidadãos falíveis e pecadores como os demais?
A mediatização deste processo já mete nojo aos cães.
__
(*) Art.º 372º, n.º 3, do Cód. de Processo Penal: ...a leitura do relatório [da sentença] pode ser omitida. A leitura da fundamentação, ou, se esta for muito extensa, de uma sua súmula, bem como do dispositivo,é obrigatória, sob pena de nulidade.
- Imagem extraída daqui.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Canção para os mineiros chilenos

Pouca é a distância entre a vida e a morte.
O caminho – ponte entre o mundo de baixo
e o azul celeste –
é mais curto que o caminho daqui até lá baixo.
O mesmo que entre a vida e a morte.
__
- Canção dos índios Araucanos, extraída de “Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro”, Porto 2001, Assírio & Alvim, 3ª edição, pág. 130.
- Imagem: Lloncon, líder mapuche (ou araucano), povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina. [extraído da Wikipédia]

Sanjo: as sapatilhas reinventadas

Quem não se lembra das sapatilhas Sanjo, fabricadas em S. João da Madeira e que foram a coqueluche da malta nova até há uns 30 anos atrás?
Inicialmente produzidas em branco e preto, tinham 2 pequenas rodelas de borracha para proteger os tornozelos, um rebordo protector em borracha e biqueira protectora.
A marca existia desde os anos 20, mas as sapatilhas aparecem apenas nos anos 40. Em meados de 80 a concorrência estrangeira acabou com elas.
Voltaram há cerca de um ano, made in China.
As TV's e os jornais vêm falando delas, que as crises são propícias ao revivalismo.
Não faltam notícias das Sanjo,como aqui, ali, ou no no grupo de fãs do facebook.

sábado, 4 de setembro de 2010

A balança da Justiça - II

Do resumo do Acordão de Colectivo de Juízes do processo Casa Pia, dado à estampa pelo CSM:

Quanto ao arguido J…, que foi médico de alunos da Casa Pia e que continua a exercer a profissão,..."

"Quanto ao arguido H…, que foi advogado de defesa do arguido C… durante quase dois meses, mas que passou depois também à condição de arguido…

 
Nas sentenças já se mandam indirectas a outras corporações...

As manifs de Maputo e o facebook

Recomendo este texto do ma-schamba sobre o acesso à informação no decorrer da revolta popular em Maputo, onde se prova que o facebook é muito mais que engate, é informação viva e partilhada.
Talvez pelos afectos que a África gerou por via da puta da guerra ou da paz por encontrar, o Ma-schamba esteve sempre linkado nos meus blogues preferidos.
Já agora, lembro uma frase de Amílcar Cabral: o colonialismo não tem cor.
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- Imagem extraída de Cottage Style, via imagens do google.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Secretária portátil

Para quem gosta de trabalhar em férias ou no remanso do jardim ou do quintal, aconselho esta secretária portátil.

As imagens foram extraídas do blogue modaparahomens, para quem homem também tem de ter estilo.
- Apetece perguntar: quem, à sua maneira, não tem estilo?

O interessante Tim Vinke é um designer e escultor que vive e tem estúdio em Groningen / Holanda, com exposições e trabalhos apresentados na sua cidade e em Roterdam, Amesterdam e Berlim.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os pc's só dão problemas

O portátil vai de mal a pior e entrou em quarentena.
Como não tenho a desculpa do puto da imagem, aproveito para analisar as recentes alterações ao Código de Processo Penal (Lei 23/2010, de 30/8) e, como se não bastasse num só dia, às medidas de protecção das uniões de facto e ao Código Civil (Lei 26/2010).

A diarreia legislativa não tem fim à vista e não há no mercado quem nos salve.
Para saberem mais sobre a doença, digitem "diarreia legislativa" na barra lateral de pesquisa do google.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Comércio do Funchal

Não me refiro à retoma do comércio e turismo do Funchal depois do temporal de 20 de Fevereiro.
Lembro o jornalinho cor de rosa que me acompanhou desde os tempos da faculdade até aos anos da brasa da Revolução de Abril.
Fui assinante do extraordinário e quase miraculoso CF entre Fevereiro de 1970 e igual mês de 1975, de que guardo religiosamente todos os exemplares. Vale-me ter um sotão grande, do tamanho do meu mundo.
Imagine-se o que representou receber durante 26 meses nas matas do norte de Angola e de Cabinda o precioso jornal, um marco na luta contra a ditadura.
Que lufada de ar freco!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Um zero à esquerda

O nosso 1º anunciou ontem a iniciativa "licenciamento zero", incluída no Programa Simplex 2010.
Sou testemunha de algumas louváveis medidas simplex: sem sair do escritório, sentado à mesa do pc onde tenho instalado o certificado digital que a profissão requer e enquanto o diabo esfrega um olho, promovo a criação de mais uma "empresa na hora". Para ajudar à festa, as certidões on line passaram a ser o pão nosso de cada dia, em geral à borla.
Diarreia legislativa à parte, não faltam bons exemplos de desburocratização administrativa.
No caso e embora a consulta da resolução do Conselho de Ministros não esclareça todas as dúvidas sobre o licenciamento zero, estou em crer que, finalmente, os portugueses vão poder atingir o estado supremo da libertação burocrática, o verdadeiro nirvana, ou, se preferirem, o céu dos cristãos.
Em verdade vos digo: tudo parece indicar que qualquer aspirante a dono dum estabelecimento de restauração, de bebidas, de comércio de bens, de prestação de serviços ou de armazenagem, passa a poder abrir o seu estaminé sem ter de se preocupar com os licenciamentos municipais mais básicos (licença de utilização, inspecções sanitárias e afins). As vistorias passam a ser uma minudência, coisa de pouca monta, pelo que bem podem ficar para mais tarde recordar.
É fácil imaginar o que nos espera: enquanto o pau vai e vem, folgam as costas dos xico-espertos.

Este governo faz-me lembrar o Lucky Luke...
...o cowboy que dispara mais rápido que a sua sombra.
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Imagem extraída da contra-capa dos álbuns de Lucky Luke, fase anterior à campanha antitabágica.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Eles comem tudo

Não, não falo da famosa canção do Zeca Afonso. Nem dos boys em fim de ciclo, fatalmente à espera de serem reciclados por nova fornada, que as sondagens não costumam enganar-se.
Falo do oriolus oriolus, que todos conhecemos por papa-figos.
Podem dizer-me que são atraentes e tardios: queixa-se o avesdeportugal.info de que é um visitante estival que chega bastante tarde ao nosso país.
Detesto queixinhas. Por mim, passava bem sem eles. Longe da vista, longe do coração dos preciosos figos, que mal chegam para o meu apetite voraz.
Lembro-os porque me chegou às mãos uma boa pratada deles. São um regalo, da nobre casta pingo de mel e está na cara que não chegam para as encomendas.
Vai sendo tempo de ir a eles ao quintal do vizinho.
Lembrei-os, aos figos, AQUI.
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- Diz-se que a 1ª peça de vestuário foram folhas de figueira, mas o Adão e a Eva já não estão cá para o testemunhar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Este país

Este país é um corpo exasperado,
a luz da névoa rente ao peito,
a febre alta à roda da cintura.

O país de que falo é o meu,
não tenho outro onde acender o lume
ou colher contigo o roxo das manhãs.

Não tenho outro, nem isso importa,
este chega e sobra para repartir
com os corvos - somos amigos.

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Matéria Solar, de Eugénio de Andrade  / Poesia e Prosa [1940 * 1980] / Edições Limiar.

sábado, 21 de agosto de 2010

Caviar de sangue

Fui há dias convidado para comer caviar acabadinho de chegar do Daguestão, uma república autónoma russa que faz fronteira com a Rússia, a Tetchénia, a Geórgia e o Azerbeijão e é banhada a nascente pelo mar Cáspio, exactamente onde é pescado o esturjão das famosas ovas [ikra, em russo].
Os povos do Daguestão são maioritariamente muçulmanos sunitas, de hábitos moderados e tradições milenares. Com o desaparecimento da URSS, os radicais islâmicos vêm-se infiltrando no país a partir da Tetchénia, tentando implantar ali uma república islâmica, que designam como Emirato do Cáucaso.
Não olham a meios e a violência instalou-se no Daguestão. Os assassinatos, atentados suicidas e confrontos armados passaram a ser o pão nosso de cada dia.
Ao que me disse a cliente, natural do Daguestão e casada em Portugal, os millitantes islâmicos aliciam as pessoas oferecendo 7.000 dólares a quem seguir a sharia. Como consequência, o Daguestão passou a viver em estado de sítio, com tanques diariamente na rua e militares armados com a velha kalash.
Tudo isto me faz pensar se o mundo não estaria melhor nos tempos da URSS e da Jugoslávia do Tito.
Estalinismos à parte...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O rio, o vento e a vida

O rio passa, passa
e nunca cessa.
O vento passa, passa
e nunca cessa.
A vida passa:
nunca regressa
*

Faz hoje 15 anos que morreu Hugo Pratt, o celebrado autor de Corto Maltese. Lembrei-o AQUI.
- O poema é dos índios Aztecas, América do Norte, em tradução de Herberto Helder. Publicação: "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro", Assírio & Alvim, 3ª edição /Abril de 2001, pág. 140.
- A imagem ao lado foi extraída da contracapa de "Fort Whelling", de Hugo Pratt,Tomo 2, Edições ASA, 1ª edição, de Nov. de 2002.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Conhecer o património natural

Não há Câmara Municipal que não tenha feito aprovar os seus regulamentos de taxas e licenças para os mais variados gostos e paladares. Basta dar um salto ao site de cada um dos municípios do país para encontrar n regulamentos sobre a matéria x 308 municípios.
Porém, dificilmente encontraremos um levantamento do património natural ou paisagístico dum município. Dos regulamentos dos planos directores municipais (PDM's) constam escassas e muito vagas referências ao ordenamento, gestão e preservação do meio ambiente.
A propósito das competências da câmara municipal, a alínea m) do n.º 2 do art.º 64º da Lei das Autarquias Locais diz-nos que cabe àquela "assegurar...o levantamento, classificação, administração, manutenção, recuperação e divulgação do património natural, cultural, cultural, paisagístico e urbanístico do município..."
Talvez por se tratar da última alínea da lei referente ao planeamento e desenvolvimento, as coisas funcionam como aquelas cláusulas gerais dos contratos que são escritas em letra miudinha: ninguém as lê.
Daí a pergunta: 
Quantos municípios conhecem e identificaram os seus cursos de água e zonas húmidas, os espaços florestais, bem com a sua fauna e flora? Que aves, mamíferos e outros animais selvagens temos e quais são os seus hábitos? Que medidas devemos tomar para a sua preservação?
Os municípios não sabem e nós muito menos. 
O que conta são as visões economicistas do espaço físico que nos rodeia.
_
Imagem extraída dum post sobre uma viagem ao rio Mondego, AQUI.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Lampreia na Bairrada

Ensinam os livros que a lampreia (petromyzon marinus, linnaeus - 1758) é um membro primitivo da classe dos ciclóstomos, semelhante aos peixes da família dos agnatas, isto é, sem maxilas.
É sobretudo a partir deste mês que o bichinho, vindo do mar para desovar, se aventura a entrar nas barras dos rios a norte do Mondego, onde é mais apreciada.
Apesar de não ser alta, loura, nem ter olhos azuis, esta imigrante feiísssima e de ar untuoso tem uma fiel legião de fãs, entre os quais me encontro.
Tal como outras e menos higiénicas louras, é fácil encontrá-la à beira da estrada. Os sítios e pose que preferimos ficam ao longo dos rios Vouga (Paradela, Pessegueiro e Sever do Vouga) e Mondego (Montemor, Ereira, Porto da Raiva), sendo várias as formas de a servir à mesa. Cá por mim, fico-me pelo célebre arroz de lampreia, apresentado como a imagem mostra.
A novidade está na feliz circunstância do muito nosso Pompeu dos Frangos ter passado a servi-la ao almoço de 6ª feira. Para gáudio dos fãs, o Carlitos Aires introduziu o petisco na época passada. Basta dar um saltinho ao restaurante nascido em Bustos, mas instalado na Malaposta - Anadia desde 20 de Novembro de 1963.
A viagem até à antiga malaposta vale mesmo a pena.
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A imagem foi extraída da Wikimedia.
Quem quiser conhecer um pouco da vida e obra da saborosa migrante pode ir até ao Aquário Vasco da Gama, aqui.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Chover no molhado

Então Deus disse a Noé: «o fim de todos (os homens) chegou diante de Mim, pois encheram a terra de iniquidades. Vou exterminá-los, assim como à terra. Constrói uma arca de madeiras resinosas.
...
De tudo o que tem vida, de todos os animais, levarás para a arca dois de cada espécie, para os conservares vivos junto de ti: um macho e uma fêmea.
Depois .... 
...romperam-se as fontes do grande abismo e abriram-se cataratas do céu. A chuva caiu sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.

Comentário: chove tanto e de tanto lado, que é melhor ir pensando no pós-dilúvio.
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- Citações da Bíblia Sagrada / Génesis, 6 e 7, Edição do Instituto Bíblico de Roma, Stampley Publicações Ltda., São Paulo, Brasil].
- Imagem extraída de www.risadageral.com

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A face oculta das escutas ou de como as coisas se terão passado

O processo
A profusão e o conteúdo dos alvos eram de tal ordem que pareciam óbvios os fortes indícios da prática do crime de atentado contra o estado de direito. Porém e apesar de bom zelador da lei e dos ideais de Abril, o tribunal de Aveiro deixou-se levar pela velha e recalcada regra do acusatório: não está escrito em lado nenhum, mas, à cautela, há que indiciar pelo mais e depois logo se verá onde é que isto vai parar.
Percebe-se a regra desviante: ao contrário de que pensava Josef K. (1), a justiça não pode ficar quieta. Bem vistas as coisas, quaisquer tentativas ou meros fumos que apontam para a monopolização de orgãos de informação servem para bloquear o processo democrático. Logo, há que agir rapidamente e derrotar a todo o custo esse estádio supremo do capitalismo que é o imperialismo.
O "sistema de participações" de que falava Lenin (2) não só serve o aumento de poderio dos monopolistas, como permite levar a cabo as piores traficâncias e roubar o povo impunemente.
Vistas assim as coisas, só havia um caminho a seguir: apunhalar o novo César!

As forças de bloqueio
Esqueceu a instância aveirense que o ordenamento jurídico vive enredado numa teia demasiado peganhenta, ainda por cima agravada pela diarreia legislativa que vem assolando o país. Vá lá a gente entender-se no emaranhado de leis codificadas e avulsas.
Pior que tudo isso: como se não chegasse o enredo das supostas infiltrações maçónicas e jesuíticas no aparelho judiciário, sobretudo ao nível das instâncias superiores (3), a nódoa acabou por cair no melhor pano:
As escutas do novo César eram, afinal, nulas. Pois é: os melhores também se enganam e falham onde era suposto acertar no alvo.
Mas nem tudo estava perdido: se a comunicação social chega aos segredos de Estado, porque é que não há-de chegar às meras escutas dum processo judicial? Afinal, sempre lá chegou e, convenhamos, é para isso mesmo que servem 
as forças de desbloqueio
No meio duma crise que ameaçava a ruína, as escutas caíram como sopa no mel ou lagosta à mesa dos haitianos da comunicação social. Com a vantagem de que não há regras processuais a respeitar: os suspeitos presumem-se culpados e quem tem escutas tem condenação pela certa. Basta divulgar o que interessa e ocultar os sinais contrários.
O endes (4)
Muito por culpa dos agentes judiciários (magistrados, advogados, funcionários judiciais e outros que tais) a Justiça, essa, entretanto, vai derrapando até chegar à total descrença pública.


Cá por mim, que deixei de ir ao circo há dezenas de anos, vou-me ficando pela feira quinzenal da minha terra, logo ali no Sobreiro e pelas iniciativas locais. Prefiro os sabores e o pulsar das gentes da terra. Porque é aí que encontro as minhas raízes.
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Referências bibliográficas e notas finais:
(1) O Processo, de Franz Kafka, Colecção Dois Mundos/Ed. Livros do Brasil, pág. 152.
(2) Imperialismo, estado supremo do capitalismo, de V. I. Lenin, Ed. Centelha, Coimbra/1974, pág. 64.
(3) Acordão do Supremo Tribunal Administrativo de 14/1/2010, Proc.º n.º 043845, consultável
AQUI.
(4) Na minha terra, chama-se endes ao ovo das galinhas poedeiras que deixamos no ninho depois de retirados os demais, de modo a servir como chamariz. Estou em crer que a palavra vem do inglês "end".
 - As imagens foram extraídas do site presentermedia.com e do post encontrável na etiqueta "Justiça" (A palavra e a mão).
- P.S. (salvo seja): chama-se "alvo" à referência onde as escutas estão contidas no processo através dum n.º identificador, de modo a facilitar o acesso ao suporte digital contido num CD ou no próprio disco duro do computador.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Sol não é para todos

O episódio do procedimento cautelar destinado a impedir a publicação dum texto no semanário Sol constitui mais uma machadada na deliberada descredibilização da Justiça.
Os jornalistas julgam-se acima da lei, usam e abusam de meios proibidos ao comum dos cidadãos e, não tarda, serão eles a decidir quem, mal ou bem, deve ou não deve governar o país.
No que ao 1º ministro diz respeito, o conteúdo das escutas feitas no âmbito do processo "face oculta" não tem relevância criminal. Foi o que decidiram o Procurador Geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
Como desde logo defendeu o Bloco de Esquerda, os indícios (aparentemente evidentes) de que pessoas do círculo do 1º ministro (com ou sem a cumplicidade ou co-autoria deste) tencionavam ou ambicionavam controlar orgãos da comunicação social "incómodos" justificam uma investigação séria por parte da Assembleia da República.
Provavelmente e de acordo com as regras democráticas, conduziriam à mais do que justificada demissão deste governo minoritário.
Como as coisas se estão a passar, o verdadeiro poder saltou para as mãos da comunicação social.
Pela 2ª semana consecutiva, o semanário Sol publica notícias obtidas por meios ilícitos, criminosos, meios que ao longo de 31 anos de advocacia desaconselhei aos meus clientes. Sob pena da justiça penal lhes cair em cima com unhas e dentes, para além dos limites das suas capacidades de defesa.
Se um cidadão anónimo, sem poder financeiro, social ou político, se furtasse a uma citação como a que uma agente de execução repetidamente pretendeu cumprir durante a tarde de ontem na sede do semanário, certamente estaria hoje a sentar-se no banco dos réus sob a acusação de obstrução da justiça.
Se o mesmo cidadão fizesse uso dum meio ilegítimo, criminoso, para atingir um objectivo (ainda que lícito), já teria sido detido e, com alguma probabilidade, seria rapidamente julgado e severamente condenado.
Quanto às escutas, quando legítimas, não passam de mais um meio de prova que, corroborado por outras diligências probatórias, poderá levar à condenação dum suspeito da prática dum determinado crime.
Por curiosa coincidência, ontem mesmo, vários colegas defendemos essa tese em sede de alegações finais num conturbado e longo processo-crime.
Mas para a toda poderosa corporação da comunicação social a justiça é diferente. Confirma-se que quem tem poder manda como quer.
Também se confirma o que sempre me pareceu desde os tempos de jovem rebelde: o sol, quando nasceu, não é para todos.
George Orwell tinha razão no seu romance de 1949: o big brother vem aí!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Sr. Teixeira

Já se percebeu que o ministro Teixeira dos Santos não aceita que a Madeira veja aumentadas as transferências do Orçamento do Estado. Por uma questão de justiça e equidade entre os portugueses, é o que diz e bem.
Se bem me recordo, enquanto 1º ministro, Cavaco Silva também não embarcou nos desmandos de Alberto João Jardim, o que valeu a Cavaco o epíteto de "Sr. Silva".
O dirigente madeirense anda demasiado calado para o gosto dele.
Não tarda, o ministro das Finanças não passará do "Sr. Teixeira".
Entretanto, vamos esperar sentados pela justiça e equidade que muitos pregam e poucos aplicam...
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Foto tirada no Museu do Vinho da Bairrada, em Anadia.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Gracias


Mercedes Sosa, aliás “La Negra” (1935/2009): cantora popular argentina.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti: cenário de guerra

A dimensão da tragédia no Haiti levou os governos do México e do Brasil a enviarem navios-hospital em socorro das vítimas do terramoto.
Sem ignorar o empenhamento dos EUA na ajuda e a adaptação de meios militares a fins civis e humanitários, certo é que Obama não resistiu ao envio duma brigada de soldados e um porta-aviões (USS Carl Vinson, na imagem ao lado), num total superior a 5.000 militares, muitos dos quais fuzileiros. (ver notícia AQUI)
Os Césares podem ser magnânimos, mas até em momentos destes adoram mostrar o seu poderio militar.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Enfim, casados!

A Proposta de Lei do Governo sobre os casamentos entre pessoas do mesmo sexo foi aprovada pelo plenário da Assembleia da República (proposta n.º 7/XI) no passado dia 8. Pronunciei-me sobre a matéria AQUI.
Entretanto e em vez de "casamento", a proposta do PSD falava em “união civil registada” de pessoas do mesmo sexo, não alterando o regime de casamento previsto no Código Civil. Foi chumbada, como se esperava.
Ficam por responder muitas questões:
1ª - Ao afirmar no seu artigo 3º que a aprovação do casamento homossexual não implica a admissibilidade legal da adopção, a proposta fica-se entre a carne e o peixe, uma espécie de “nim”.
A inconstitucionalidade da norma parece óbvia, como desde logo ressalta da interpretação do n.º 1 do art.º 26º da Constituição.
2ª - Quem votou PS só porque a matéria fazia parte do seu programa eleitoral?
3ª – Se fosse referendado, o casamento entre pessoas do mesmo sexo levava sopa da grossa.
4ª – Pouco vai mudar no país real: a medida é impopular; porque somos conservadores e pouco dados a mudanças de fundo.
5ª – Os destinatários da proposta de lei serão uma minoria ínfima.
6ª – A homossexualidade continuará a viver escondida, envergonhada.

Donde, concluo: deveria ter-se começado por vencer a barreira da incompreensão.
A medida vai custar caro ao PS e ao contrário dos que pensam que as coisas vão melhorar, tudo acabará por piorar.


Como retrata a imagem.