sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O padrinho

Seriam umas 3 da manhã quando o telefone tocou. Deixei o teclado do portátil onde preparava mais um post e cliquei na tecla de atendimento do dito. Era o meu padrinho, a verberar-me em tom algo irritado:
- “Ouve lá! Então agora andas armado em bloguista independente e verrinoso! Ainda por cima botaste no blogue uma imagem do Che com ar decadente e meio cóboi!
Ouve lá ó meu merdas! Andas a portar-te mal, a modos que a mijar fora da carroça, como dizem aí na tua terreola!

- “Oiça, padrinho, mas eu sou um homem livre como os passarinhos. Afinal vivemos em democracia” – balbuciei.
- “Qual padrinho, qual quê! Ainda acabas por te virar é contra mim! É o teu próximo passo, meu madraço, que eu bem te conheço o estilo!”, interrompe ele num tom de voz que me começava a preocupar.
- “Mas oiça, padrinho, você sabe bem que nunca fui muito de ir à missa, quanto mais à catequese. E, gaita, também só o padrinho e os seus outros afilhados é que botavam faladura nas reuniões e eu ali para um canto como se fosse uma peça do mobiliário estilo art nouveau ou coisa assim...
- "Você?! Mas agora é assim que me tratas?"
O homem tinha razão: estava a ser indelicado e rude. Engoli em seco e atalhei:
- “Desculpe, Sr. Eng.º, foi sem querer, enervei-me…
- “Agora tratas-me por engenheiro? Estás-me a gozar, ou quê! Até parece que não sabes que o canudo foi uma prenda que eu recebi e que tive de pagar com outro favor!", retorquiu-me ele, cada vez mais agreste e irritadiço.
A conversa ia de mal a pior e não havia maneira de eu atinar com um final feliz para o raio do telefonema a meio da madrugada. Só tinha uma saída: confessar o meu delito.
- “Sabe, Sr. 1º ministro, isto são os calores do verão a atacar-me. Já leu o que o BC disse sobre esta minha fase, no
Notícias de Bustos?
- Senti que sossegou; tanto que me respondeu prontamente: “Assim está melhor. Já começas a entrar nos eixos. Olha, por falar em calores: vou uma semanita de banhos pró Cartaxo curar-me de tanta canseira.
Mas ficas a saber: quando regressar, vais alinhar em grande na Campanha Alegre!!" (*)
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(*) Pressinto que as coisas vão mesmo melhorar entre nós. O meu padrinho não se referia ao Manel Alegre. Estava na cara que ele também andava a ler o Eça de Queiroz, mais precisamente “UMA CAMPANHA ALEGRE - De “As Farpas”, em 2 volumes, editado pela Lello & Irmão, Porto, 1965.

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