domingo, 31 de janeiro de 2016

Regressar às origens

A mal conhecida e envergonhadamente escondida história do movimento macknovista continua a perseguir-me, sempre pela positiva.
Vale a pena, vale mesmo a pena, lembrar um pouco da sua fantástica história:

Nestor Ivanovich Mackno nasceu na Ucrânia em 1888. Azar dele, tendo em conta que no decorrer a 2ª grande guerra (1939/45) muitos ucranianos - demasiados ucranianos - traíram a pátria soviética na justa luta contra Hitler, pondo-se ao lado dessa nojeira que foi o nazismo.
A partir de julho de 1918, Mackno passou a liderar um poderoso exército de matriz anarquista que se opôs ferozmente ao bolchevismo vermelho dos primeiros anos da revolução russa. 
Não fica mal lembrar que, antes, Mackno começou por se opor ao anticomunista exército branco que defendia o regresso ao czarismo. 
Nem branco, nem vermelho, o numeroso exército macknovista adoptou o preto, cor de eleição de qualquer anarquista que se preze.

Em maio de 1923, o anarquista russo Voline prefaciou este fantástico livro da autoria de Piotr Archinov.
O movimento macknovista foi - e passo a citar o autor do prefácio deste livro que guardo religiosamente desde 1976 - “produzido pura e unicamente pelas camadas mais baixas das massas populares, estranhas a toda a pretensão de esplendor, de dominação e de glória…
Desenrolando-se, quase sem intervalos, em condições de luta armada incrivelmente tenazes e penosas; rodeado de todas as partes de inimigos; com poucos adeptos fora das esferas não trabalhadoras; combatido sem quartel pelo partido dominante…tendo perdido, pelo menos, 90 por cento dos seus melhores participantes…o movimento deixou poucos documentos vivos.

Ao slogan bolchevista “a terra a quem a trabalha”, Mackno contrapunha um slogan muito do meu gosto: a terra é de quem a trabalha!
Se não for assim, com que alma vamos buscar forças para defender as nossas raízes?
Sem raízes nossas, plantadas por nós nas terras que nos viram nascer, sem essa matéria-prima, donde vamos alimentar a seiva que nos fortalece?
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Em 1976, regressado da puta da guerra colonial há um par de anos, abracei de alma e coração o anarquismo puro e duro.
- É dele que guardo os restos que ilustram este blogue, aqui ao lado, na barra direita.
- Herdei dele o “cão que não conhece dono”, que o maldito vírus pirateou e agora não está lá mas há-de voltar.
- Dele herdei o contra senso da minha 1ª grande guerra, onde fiz tudo o que um verdadeiro anarquista odeia: a guerra, sem medo, por sinal armado em herói estúpido, de peito feito às balas, que a morte não era com o alferes miliciano ranger que eu exercitei, nem com os meus bravos, que um dia jurei trazer a todos, bons do corpo, mas abalados da alma.
- Por excelência, dele herdei o contraponto do Léo Ferré: "dans le coktail molotov il faut metre du martini, mom petit".
- No meio desta caldeirada de senso e de falta dele, também dele herdei uma certa imagem do torreão da ABC de Bustos, imagem retratada AQUI.

O Serginho, de sua graça Sérgio Micaelo Ferreira, bustuense de gema e agora a modos que retirado (atirado?) lá para os confins da serra interior, foi dos que acertou na mouche, me cheirou à distância e me tirou a preceito as medidas do fato que o Ti Adriano alfaiate da nossa juventude me fazia da raíz do tecido, quando anunciei pomposamente a criação do meu blogue pessoal e intimista. À data (6/8/2008), o Serginho saiu-se com esta posta.

Vê lá mas é se apareces, ó trânsfuga, que está por fazer a verdadeira revolução, a tal que ficou na gaveta quando o 25 de Abril saiu à rua!
Ou pensas que mudou o que de mais importante havia para mudar?
A mim parece-me que faz falta mudar as mentes e tantos usos e costumes do reino. 
Feita a mudança, é fácil acabar ou reduzir ao mínimo a podridão dos interesses instalados, do poder da manjedoura, dos compadrios, dos favores e da corrupção à fartazana?
Pensarás tu que tendo mudado de burro mudaste de moleiro?
Se pensas, estou como diz o povo: estás muito mal enganado!
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P.S. (salvo seja): do meu anarco-sindicalismo, até acabar no Mackno, disse muito AQUI.