Claro que o meu filhote (da 3ª
cama, a bem dizer) também tinha destas coisas de miúdo...
Como diria o meu Eugénio de
Andrade [Os amantes sem dinheiro, 1947/49: Poema à mãe]:
"No
mais fundo de ti,
Eu
sei que traí, mãe.
Tudo
porque já não sou
O
retrato adormecido
No
fundo dos teus olhos.
…
Tudo
porque perdi as rosas brancas
Que
apertava junto ao coração
No
retrato da moldura.
…
Olha
- queres ouvir-me? -
às
vezes ainda sou o menino
que
adormeceu nos teus olhos;
ainda
aperto contra o coração
rosas
tão brancas
como
as que tens na moldura;
ainda
oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal!...
Mas
- tu sabes - a noite é enorme,
e
todo o meu corpo cresceu.
Eu
sai da moldura,
dei
às aves os meus olhos a beber.
Não
me esqueci de nada, mãe.
Guardo
a tua voz dentro de mim.
E
deixo-te as rosas.
Boa
noite. Eu vou com as aves."
____
- O Eugénio de Andrade
faz parte dos bibelots da minha mesinha de cabeceira desde que comprei, na Feira
do Livro em Aveiro, a sua coletânea de Poesia e Prosa [1940 – 1980], Edição
Limiar.
Foi no dia 27/5/84 e era Dia da Mãe. Lembram-se?
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