A Europa vive o maior fluxo de refugiados desde a 2ª Grande Guerra
(1939/45).
O novo ciclo de guerra e destruição que afeta a Síria e outros países islâmicos
vítimas de movimentos extremistas conduziu a uma fuga sem precedentes das
populações afetadas, com destino aos países da União Europeia, em especial Alemanha. A história tem destas ironias…
Este novo fluxo de refugiados merece uma reflexão ponderada, humanista
e de matriz solidária, agora que, aqui e ali, se vão ouvindo algumas vozes
contra o seu acolhimento.
Já agora: se acolhermos os 4.593 refugiados previstos e tendo em conta
as 3.092 freguesias que sobraram depois da controversa reforma administrativa
de 2013, teremos qualquer coisa como 1,5 pessoas por freguesia.
Ora gaita! Bom grado o milagre económico que agora termina o seu ciclo,
não chega - nem para aí caminha - para reanimar o depauperado comércio de
Bustos.
Um pouco
de história
Como diria a grande poetisa Sophia de Mello Breyner
Andressen, “vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”.
Daí fazer todo o sentido
lembrar o que aconteceu em Portugal antes e durante a II Grande Guerra com a
chegada do nazismo à Alemanha de Hitler.
A vaga de refugiados a Portugal,
então ferozmente dominado pelo ditador Salazar, decorreu entre 1933 e 1945 e
foi resultado da nazificação da Alemanha e da invasão e ocupação da maior parte
dos países europeus, sobretudo França e Países Baixos.
As estimativas apontam para cima de 100.000 refugiados que entraram nesse
período, a grande maioria de passagem para países de destino final, sobretudo
Estados Unidos. Só entre junho de 1940 e maio de 1941 foram cerca de 40.000.
Com Lisboa e a linha de Cascais congestionadas desses fugitivos em
busca de paz e liberdade, a partir de 1942 o regime passou a encaminha-los para
“residências fixas” em zonas termais ou de veraneio, nas Caldas da Rainha, Ericeira,
Curia e Figueira da Foz,
Claro que a imposição dum tal regime de residência se deveu ao receio
daquela estranha e variada gente poder subverter a moral e os bons costumes que
o tirano achava adequados ao país miserável que governava com punho de ferro.
Como nos conta o historiador João Serra, citado AQUI,
“Os refugiados fugiam de uma ditadura
para uma outra, em Portugal, que não cultivava o anti-semitismo”.
De forma a percebermos melhor o drama desses cidadãos, leia-se este texto de apresentação da obra de Irene Pimentel “Judeus em Portugal
durante a II Guerra”:
Havia gente de todas as
condições sociais e a grande maioria foi em situação de puro desespero que aqui
chegou: sem meios, sem roupa, com fome, depois de vencer dificuldades tremendas
para percorrer a distância que os separava da fronteira terrestre de Portugal.
Curiosamente e tal como parece ser o presente caso de grande número
dos refugiados sírios, os fugitivos de então pertenciam à classe média, alta e
até à aristocracia.
Ontem, como hoje, o acolhimento de refugiados não só revela a
solidariedade entre os povos, como atesta o seu grau de cidadania.
E já agora que se escreve e discursa tanto sobre ela, chamo à colação
o n.º 1 do seu art.º 7º:
Portugal rege-se nas relações
internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos
direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da
solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos
internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a
emancipação e o progresso da humanidade.
Reporto-me à Constituição da República, de que agora tanto se escreve e fala nas comunicações ao país.
Reporto-me à Constituição da República, de que agora tanto se escreve e fala nas comunicações ao país.
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